domingo, 8 de setembro de 2013

Indecifrável

Postado por Bárbara Araújo às 21:49

Era um dia comum. Acordei atrasada, porque mesmo depois do quarto toque do alarme eu insistia que tinha mais cinco minutos. Meu guarda roupa estava bagunçado e eu tinha uma pilha de roupas para lavar. Ah, como eu odeio lavar roupas! Minha mãe sempre disse que eu deveria me acostumar, mas a preguiça fez eu deixar isso de lado e ir assistir mais um episódio da minha série favorita, por favor mãe, hoje a mocinha vai fazer as pazes com o mocinho pela centésima vez! Eles se beijaram e eu criava no fundo falsas esperanças que eu ia ter um namorado, brigar mil vezes e sempre acabar com um beijo apaixonado, porém sem o "corta" no final. Bem, não era disso que eu estava falando, eu e a minha mania de me perder em pensamentos. Deixei a roupa de lado, por mais um dia, peguei minha calça mais confortável (e uma das poucas que estavam limpas, um belo milagre), blusão e sai, ou eu ia acabar perdendo o metrô como sempre. Horários não são bem a minha praia como vocês podem ver. Podem dizer que eu sai desarrumada, largada, mas com um fone de ouvido eu até consigo fingir que não vejo os olhares curiosos, alguns de reprovação, outros até dizem, ou quase isso, que eu tenho uma certa beleza, única, simplesmente bela. Não consigo acreditar nisso, talvez seja mais um desses sintomas de traumas adolescentes.
Sentei no mesmo lugar de sempre, perto da porta. Não estava muito lotado, mas tinha algumas pessoas em pé, como o cara apoiado próximo a porta, praticamente na minha frente. Ele definitivamente era o tipo de cara que a minha mãe olharia de lado e diria uma das suas épicas frases "como a mãe dele deixa ele sair largado desse jeito" ou algo do tipo. Olha eu aqui mãe, sou exemplo de largação, se é que essa palavra existe.
Ele não levantava muito a cabeça, mas de relance consegui ver seus olhos escuros, como os de alguém que já viu muita coisa da vida. Não fazia o jeito de galã adolescente, mas estrearia um drama muito bem. No fundo encantador. Mistério era seu perfume, por mais louco que pareça. Gosto de ficar imaginando a personalidade das pessoas. Ele parecia ser na dele, mas tinha uma certa vontade de extravasar o que fosse lá que estivesse sentindo. Talvez se não gravassem e postassem na internet ele começaria a dançar ali no vagão. Ou talvez ele só estivesse com sono. Eu disse que gostava, não disse que era boa.
Talvez ele curtisse rock, mas não reclamaria se tocasse sertanejo. Talvez ele gostasse de ler ou nunca tenha pisado em uma biblioteca na vida. Ele deve ter um sorriso lindo. Será que sorri? Imagino que sim. Droga, odeio pessoas indecifráveis, me faz sentir impotente. Meu Deus, esse metrô não vai chegar na plataforma nunca? No fundo eu queria seguir ele, descobrir seus segredos. Mas, não, não quero pensar nisso.
Parou. As pessoas da parte de trás do vagão já começavam a se aproximar da porta. Ele já estava pronto para sair. Assim que as portas abriram, devido a proximidade, saímos um atrás do outro. De repente ele se virou e o canto da sua boca mexeu em algo que deveria ser um sorriso e eu o olhei. Olhei com aquele olhar que queria dizer que ele tinha sua beleza, paralisante, dramática. Ele remexeu mais um pouco um canto da boca, revirou os olhos e saiu. É, talvez eu não seja a única a ter sintomas de traumas adolescentes.

***
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xx, Bárbara.

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